Criei este blog como exercício mnemónico. Vejam bem: às
vezes, deambulando, penso em voz alta. Melhor: sempre penso. Quando não falo em
voz alta, penso em voz alta. Penso nas horas, no jantar, no tempo, nos
contratempos. Não penso para onde vou, isso não, ou logo a magia do andar
determinado se perde nos leigos passos. Movo-me porque sei para onde vou,
apesar de só lembrar outras coisas. É que encontrei uma forma de combater
tantos afazeres: a lista.
Sempre que penso algo importante, procuro um papel para anotar
tal coisa. Pode ser falta de courgete para sopa, um filme para ver com o Mariano,
uma morada bonita ou um novo poeta louco. Aponto porque me acalma, aponto para
não ter de lembrar. A palavra escrita vive e a palavra falada pode ser nova.
Tenho três tristes cadernos
porque pensei sistematizar meus tigres pensamentos em três categorias
diferentes: tarefas, citações e ideias. Tenho três cadernos mas todos têm
tarefas, citações e ideias. Tenho ainda a aplicação Notas do telemóvel, guardado
no bolso longe do coração mas perto da mão destemida. Às vezes esqueço-me do
que pensei anotar, outras vezes a palavra apontada perde intensidade face ao
diálogo mental. Mas assim é: tento apontar tudo o que me pareça importante.
E é importante misturar agriões com Rimbaud, vermelho com
Llansol, datas com soluços. Daí nasce uma nova linguagem.
Criei este blog como exercício mnemónico. Vou partilhar
algumas coisas que penso acompanhadas de coisas que rabisco. Deixo-vos com uma bonita
lista de Clarice Lispector retirada
daqui. Perdoem-me por não ser Clarice.