quinta-feira, 9 de janeiro de 2020


Criei este blog como exercício mnemónico. Vejam bem: às vezes, deambulando, penso em voz alta. Melhor: sempre penso. Quando não falo em voz alta, penso em voz alta. Penso nas horas, no jantar, no tempo, nos contratempos. Não penso para onde vou, isso não, ou logo a magia do andar determinado se perde nos leigos passos. Movo-me porque sei para onde vou, apesar de só lembrar outras coisas. É que encontrei uma forma de combater tantos afazeres: a lista.
Sempre que penso algo importante, procuro um papel para anotar tal coisa. Pode ser falta de courgete para sopa, um filme para ver com o Mariano, uma morada bonita ou um novo poeta louco. Aponto porque me acalma, aponto para não ter de lembrar. A palavra escrita vive e a palavra falada pode ser nova.
 Tenho três tristes cadernos porque pensei sistematizar meus tigres pensamentos em três categorias diferentes: tarefas, citações e ideias. Tenho três cadernos mas todos têm tarefas, citações e ideias. Tenho ainda a aplicação Notas do telemóvel, guardado no bolso longe do coração mas perto da mão destemida. Às vezes esqueço-me do que pensei anotar, outras vezes a palavra apontada perde intensidade face ao diálogo mental. Mas assim é: tento apontar tudo o que me pareça importante.
E é importante misturar agriões com Rimbaud, vermelho com Llansol, datas com soluços. Daí nasce uma nova linguagem.
Criei este blog como exercício mnemónico. Vou partilhar algumas coisas que penso acompanhadas de coisas que rabisco. Deixo-vos com uma bonita lista de Clarice Lispector  retirada daqui. Perdoem-me por não ser Clarice.




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